quinta-feira, 4 de março de 2010

Estado da Arte

Textos:
1.Marcuse, H. Sobre os fundamentos filosóficos do conceito de trabalho da ciência econômica. In: Cultura e Sociedade, volume II. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.
2.Netto, José Paulo. Economia Política: uma introdução crítica. 4 ed. São Paulo: Cortez, 2008. (Capítulo 1: Trabalho, Sociedade e Valor)
3.Tauile, José Ricardo – Trabalho, Autogestão e Desenvolvimento (1981-2005): escritos escolhidos. Editora da UFRJ, 2009.
4.Tauile, José Ricardo – Para (re)construir o Brasil contemporâneo: trabalho, tecnologia e acumulação. Contraponto, 2001. (Capítulo 1 – Excedente econômico e revoluções tecnológicas)
5.Pinto, Geraldo Augusto - A organização do trabalho no século 20: taylorismo, fordismo e toyotismo. 1 ed. São Paulo: Expressão Popular, 2007.
6.Faria, José Henrique - Economia Política do Poder V.?.
7.Marx, Karl – O Capital Livro 1 : O processo de produção do capital. Capítulo 1: A mercadoria.

Etmologia (Pinto)
Tripalium – antigo instrumento de tortura. Reforça a ideia do trabalho como algo não desejado.

Função social (?) do trabalho
O ser humano constrói sua existência. Pelo trabalho ele modifica o mundo e se transforma. Se coloca para o mundo e o mundo se coloca para ele.
“No trabalho acontece algo com o homem e com a objetividade, isso de um modo tal que seu ‘resultado’ é uma unidade essencial entre homem e objetividade: o homem se ‘objetiva’ e o objeto se torna ‘seu’, humano.” (Marcuse, 1998, p. 14)

Três características fundamentais do trabalho humano (Netto)
Mediação / uso de instrumentos;
Aprendizado, construção do conhecimento;
Não atende a um numero limitado de necessidades.

É atividade projetada, teleologicamente direcionada para um fim. (planejamento)

O caráter penoso do trabalho (Marcuse)
O trabalhador se insere numa realidade que não é dele, e por isso exerce um esforço de adaptação. Ele sofre por ter que saber lidar com leis que são alheias – a lei da coisa (da natureza ou da sociedade).
A coisa é objetivação humana, que é outro de si próprio. Vem no processo do trabalho. Gera contradições que vão reger o homem, além da existência. (???)
A lei da coisa está atrelada à manutenção da reprodução da sociedade. (???)
A coisa pode tomar a rédea do trabalho, nega a existência. (???)

Alienação
Em Markuse, a alienação está temporariamente ligada ao trabalho. É um movimento de ida e vinda. Uma constante alienação e desalienação.
“Essa exteriorização e alienação da existência, essa aceitação da lei da coisa no lugar do deixar-acontecer da própria existência por princípio, é inevitável (embora durante e após o trabalho ela possa desaparecer até o esquecimento total) [...]”
“Em última instância esse caráter penoso expressa a negatividade presente na essência da existência humana: que o homem só pode chegar a seu próprio ser unicamente na passagem pelo outro de si mesmo, que unicamente passando pela 'exteriorização' e pela 'alienação' pode chegar a si mesmo” (p.29-30)
Portanto, o caráter penoso do trabalho não é algo a ser superado (nota de rodapé 19, p. 47).
Processo de humanização (Netto)
“O desenvolvimento do ser social não a suprime (refere-se a naturalidade do homem) – o homem terá , sempre, uma naturalidade que indica sua condição originária de ser da natureza. Constituindo a partir dela, o desenvolvimento do ser social faz com que ela perca, cada vez mais, a força de determinar o comportamento humano: o que é próprio do desenvolvimento do ser social consiste, sem eliminar a naturalidade do homem, em reduzir o seu peso e a sua gravitação na vida humana – quanto mais o homem se humaniza, quanto mais se torna ser social, tanto menos o ser natural e determinante na sua vida.” (Netto, 2008, p. 38)
Humanização enquanto aproximação da racionalidade humana, usando instrumentos.
Distanciamento do agir por instinto.
A possibilidade de fazer escolhas – de optar pela forma utilizada para atender suas necessidades humanas.

Trabalho X Jogo (Marcuse)
Está distância se dá em outras formas de sociabilidade? Como considerar outras racionalidades?
No jogo o homem cria uma lei própria (as regras do jogo), enquanto no trabalho a lei das coisas é dada, independe da vontade humana.
A realidade objetiva também é fruto de uma construção social histórica. A partir de que momento algo que o ser humano cria se transforma em realidade objetiva e o jogo se torna trabalho? Há uma institucionalidade em torno disso? Exemplo do futebol – de jogo a trabalho.
Trabalho é compromisso social, enquanto jogo é descompromissado.
O fim do trabalho pode ser uma escolha do sujeito trabalhador, mas o meio não. O meio é dado, vem de uma lei alheia.
O jogo como abandono do trabalho, que é anterior ao jogo.

Apontamentos em Marcuse
Marcuse discorda da redução do trabalho ao trabalho econômico (característica do capitalismo). Tal unidimensionalização deve ter uma perspectiva de superação.
“Com efeito, o reino da liberdade começa apenas onde cessa o trabalho determinado por necessidade e finalidade exterior; portanto, conforme a sua natureza ele se situa além da esfera da produção material propriamente dita. A liberdade nesse âmbito só pode consistir em que o homem socializado, os produtores associados regulem racionalmente esse seu intercâmbio material com a natureza, trazendo-o para seu controle comum, em vez de serem por ele dominados como se fosse um poder cego, realizando-o com o menor dispêndio de força e sob as condições mais dignas e adequadas a sua natureza humana. Mas este sempre permanece o reino da necessidade. Além dele começa desenvolvimento das forças do homem, que se vale como fim em si mesmo, o verdadeiro reino da liberdade, mas que só pode florescer sobre a base daquele reino da necessidade.” (Marx – Capital III)

Organização do trabalho como campo de estudo
A organização do trabalho surge como campo de estudo a partir do século XVIII – início do capitalismo. A ciência passa a interferir na organização do trabalho.

Conceito do trabalho em Tauile
Restringe trabalho a atividade econômica – só é trabalho quando visa a produção de excedente. Trabalho é sempre trabalho excedente?
Distingue o trabalho diretamente vinculado à produção de um trabalho secundário (não sei se ele usa essa expressão), do chefe, do sacerdote, do curandeiro.
Se existe uma percepção coletiva sobre a necessidade desse “trabalho secundário” ele não tem o mesmo valor do trabalho diretamente vinculado à produção?
Esse “trabalho secundário” confere ao trabalhador mais poder?

Abstração no trabalho
A introdução da automação exige do trabalhador maior capacidade de abstração?
Maior capacidade e exercício de abstração não significa maior ou menor alienação?
Maior abstração não significa maior qualificação?
Maior qualificação não significa mais conhecimento?

Produção e Distribuição
Para cada forma de organizar o trabalho há diferentes formas de organizar a distribuição. No entanto as formas de distribuição estão limitadas e vinculadas à essa forma de organizar a produção. Se quisermos pensar outras formas de distribuição temos que ver como estamos organizando o trabalho.

Questões a serem aprofundas:
Necessidades, desejos, carências e vontades.
Como esse estudo pode nos ajudar a compreender outras formas de organização do trabalho? Organização do trabalho indígena e quilombola, por exemplo.
Qual a distinção entre trabalho e emprego? Emprego é trabalho alienado?
Trabalho alienado e fazer consciente: o trabalho alienado é um fazer consciente?
Divisão social do trabalho – ver Marx.
Qualificação.